O RITUAL SECULAR DE VOTOS DE ANO NOVO

Nesta altura do ano, e antes do final de dois dias, deste mês de Janeiro dedicado aos votos de Ano Novo, gostaria de desejar a todos, como é habitual, um feliz ano novo de 2024, mas infelizmente…

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024 no nosso actual mundo caótico, onde grandes nuvens que anunciam as horas mais sombrias já conhecidas pela nossa humanidade parecem acumular-se inexoravelmente a cada dia que passa sobre as nossas cabeças?

Como desejar-lhe um feliz ano novo de 2024, quando o povo do Leste da RDC, do Sudão, da Somália, do Iémen, da Ucrânia, da Faixa de Gaza, da Cisjordânia e de muitas outras partes do mundo continuam a sofrer o martírio?

Como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024, quando os fundamentos da governação global que ontem permitiram que o nosso mundo continuasse, lentamente, a funcionar estão hoje a ser minados, cito a ONU, o direito internacional, a muito mal chamada Comunidade Internacional…?

Como desejar-lhe um feliz ano novo de 2024, quando a propaganda, hoje maliciosamente chamada de comunicação, conseguiu fazer passar mentiras por verdades, contando apenas as histórias dos trágicos acontecimentos que abalam o nosso mundo actual pelo seu fim e não pela sua génese?

Como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024, quando uma velha democracia como os EUA se prepara para reeleger como seu líder um personagem fantástico com métodos notoriamente antidemocráticos que, no entanto, lhe deixou lembranças muito ruins durante o seu primeiro mandato, para a ponto de abalar a nossa percepção comum hoje dos chamados regimes políticos democráticos? Quando o democrata Joe Biden nada fez para impedir as guerras na Ucrânia e na Palestina?

Como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024 neste mundo que agora promove uma sociedade sem género, ainda mantém, mas certamente não por muito tempo, alguns escrúpulos sobre a legislação sobre barriga de aluguer (GPA), por outras palavras, sobre a mercantilização dos vivos , e quem, por mais paradoxal que pareça, parece indignado com o envelhecimento da população resultante da queda da natalidade?

Como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024 num mundo que acabou por desatarraxar todas as fechaduras morais e éticas que lhe permitiam manter um mínimo de ordem e coesão e que hoje parece estar horrorizado com os efeitos de alerta de os delitos de uma sociedade totalmente desregulamentada que agora tem como única e única perspectiva apenas “o gozo sem restrições e sem impedimentos”?

Por último, como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024 num mundo onde, em nome da produtividade e da competitividade, a água, o ar, o solo e muitos outros “bens comuns” foram poluídos, a ponto de ameaçar hoje a própria vida da espécie humana na terra?

Como podemos desejar-lhe um feliz ano novo de 2024 quando vi o presidente dos 28 milhões de pobres subir no seu avião para fazer um turismo de luxo e festivo longe da poeira e da lama quando a sua primeira missão para diversificar a economia seria dinamizar e desenvolver o turismo nacional?

Em suma, a lista de questões que me atormentam a mente e que alimentam as minhas razoáveis dúvidas, quanto à pertinência de lhe desejar neste início de ano um feliz ano novo 2024, é infelizmente, como não pode imaginar, muito longa e inesgotável no âmbito deste espaço de troca.

Então, vou parar por aí, e mesmo assim desejo-vos, e ouso esperar que este não seja um desejo piedoso, FELIZ E FELIZ ANO NOVO 2024 (saúde, pleno sucesso nos seus projectos e felicidade em suas respectivas famílias), porque não fazer isso equivaleria a desrespeitar uma tradição secular…

Ao Jornal folha 8 que dá voz aos que não têm voz, mais um bom ano e mais sucesso na prática do verdadeiro jornalismo.

(*) Refugiado político na França

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